quarta-feira, 8 de julho de 2009

Falando de livros antigos...




Quando a 3 edição do D&D estreou, lembro-me de muita gente virando a cara para ela.

Eu não fui uma dessas pessoas. Comecei a jogar RPG momentos antes do grande BOOM do início da década de 90, portanto, tive dificuldade de encontrar bons livros. (Cara, até livros ruins eu tinha dificuldade...) Assim que a Abril entrou no mercado, todos ficaram empolgados. Tinhamos o mais clássico e tradicional RPG entrando em terras brasileiras em muito grande estilo. A série "Mundos da Magia" trazia cards de Spellfire (primeiríssimo card game em português...)

Nessa época, eu e meu grupo (um grande amigo chamado Adeleon - eu sei, parece até nome de elfo...) nos divertiamos com Hero Quest, Tagmar, Gurps e aventuras Fantásticas. Mas sempre ouvindo falar do grande Ad&d... "O Ad&d isso, o Ad&d aquilo..." A Dragão Brasil, (nossa formadora de opinião RPGística) sempre trazendo material para ele...

Cara, tinhamos que jogar essa joça! Conseguimos o First Quest, e viajamos em aventuras dubladas. Ouviamos, escondidos e cada um em seu canto, sem admitir, o CD com as falas apenas pelo fato de ser um jogo em andamento... ( "- Velha senhora, o que faz neste templo do mal?" "-Eu sou a última sacerdotiza de Tethystuam...") Separado em dois módulos, a 15 reais cada um, era mole guardar o dinheiro da merenda pra comprar o jogo. (qual é galera? Merenda mesmo, eu só tinha 12 anos...)
Mas quando vieram os Grandes Manuais... O Livro do Jogador, do Mestre e dos Monstros era vendido a 59 reais, na época em que o real igualava o dólar! Era dinheiro pra CARALHO!!!!! Éramos apenas dois jogadores, estudantes recém ingressos no ginásio, andando a pé e sem merendar na escola pra comprar o First Quest, e agora, limados de vez do Ad&d.
Com o tempo, conseguimos o Livro do Jogador, mas com muito custo. Só que o estrago já estava feito... Jogamos algumas boas aventuras, mas nada muito longo... Já tinhamos outros jogos preferidos no momento...
O tempo passou, e quando a 3 edição veio, já estávamos em um grupo mais numeroso, trabalhando. Compramos os três livros básicos e nunca mais largamos.

Mas eu ainda ficava pensado naqueles livros do tempo do Ad&d, todas aquelas capas maneiras, com pinturas fantásticas... Nesse quesito a 3 edição sempre me decepcionou. O Ad&d sempre me pareceu mais aventuresco e fantástico, exatamente pela sua concepção visual. Porém, conseguir os livros da segunda edição era dificil... uma missão quase impossível, até...

E então criaram o e-mule. Assim que eu soube que poderia baixar livros de RPG pelo programa enfrentei um dilema. Isso é pirataria e prejudicaria aquelas editoras que mantinham meu jogo vivo... Acompanhei diversos veteranos do RPG na internet criticando essa possibilidade e iniciativa, explicando como isso era prejuducial para o jogo e o mercado em geral, assim como era crime...

Mas pera lá... xerocar livros também é crime. Afeta os direitos autorais e mais uma exurrada de gente empregada direta ou indiretamento no merdado editorial. E todo jogador com mais de 6 meses de casa sabe que a primeira geração de jogadores no Brasil foi a chamada geração xerox. E ai entra a pergunta. Eles eram assim conhecidos por:

a)Comprar todos os seus livros.

b)Tentar roubar a caixa forte do Tio Patinhas
c)Fotocopiar seus livros na caretona mesmo, cometendo crime federal a céu aberto.

Alguns desses jogadores hoje fazem parte do mercado produtor de RPG, e destre estes, outros alguns criticam a iniciativa de download como pirataria, crime e prejudicial ao RPG. Na minha humilde opinião (opinião sim, abro mão de ser dono da verdade em favor de escritores e autores, alguns até todo onipotentes...) isso é um erro.

Afinal, o grande jogo só conseguiu espaço no Brasil graças a pirataria. E em um cenário no qual, para jogar D&D você precisa de um livro que custa quase 80 reais, cada um sobrevive como pode.

A mãe da pirataria não é a Internet ou a maquina de Xerox, e sim a dificuldade de se conseguir os livros. No meu tempo, eu mesmo só não xeroquei os livros porque era o único jogador por mim conhecido em um raio de sei lá quantos milhões de quilometros! E depois que os livros vieram para as bancas, foi a mesma coisa. Os baratos eu comprei, os caros, não conheci ninguém que tinha, nem pra eu dar uma olhada, nem pra tirar copia.

E desde começou a onda de se fazer livros super luxuosos, todo colorido, capa dura e papel especial, o custo aumentou, e muito.

A maioria dos jogadores que eu conheço se encontram nesse dilema. São jovens estudantes sem renda própria, de classe média, dividindo sua atenção entre um milhão de coisas caras. (por que, no Brasil, ser nerd é caro pra CARALHO!!!) E, se podem baratear uma coisa ou outra, tanto melhor...
Mas eu vejo que esse público, que baixa os livros na internet, que faz pirataria de pdf ou de xerox, não é um público que deixa de comprar os livros. Se a pirataria fosse combatida de modo eficaz, esses foras-da-lei simplesmente ficariam sem jogar RPG. Simples assim. E nem mesmo entraria em depressão por isso. Logo arrumariam outra coisa pra fazer, tipo, video-games ou bolas de gude. E o quantitativo de jogadores só diminuiria.

Mas aonde eu quero chegar com isso? Em dois pontos.
Primeiro: A velha guarda que hoje indica a pirataria como uma das causadoras da crise não enxerga o fato de eles próprios serem filhos da distribuição ilegal, além do fato de ser essa distribuição ilegal responsável por sustentar a máquina girando em tempos de dificuldade. Se isso faz mal ao mercado ou fere as editoras, nada mais é do que parte da máquina, os necessitados tentando sobreviver, e os fornecedores tentando sobreviver também
Segundo: Os usuários de fotocópias ou pdfs são aqueles que não tem condições de adquirir os livros, portanto, não fazem parte da lista de clientes da mesma. Agora, se com uma versão pirata, um mestre apresenta o RPG para seis iniciantes, e destes seis, um passa a ser consumidor, pronto, o prejuízo está coberto.

Uma medida louvável foi a do site DarkSun br de traduzir e diagramar todas as SRD's da versão 3.5 do d20 e liberar o download gratuito da mesma. Aposto que com ela, muita gente pode jogar o D&D sem gastar absurdos nos módulos básicos, e ainda comprar os livros mais baratos, como as aventuras prontas ou os livros de classe do 3.0.



Mais importante do que comprar os livros, é usar os livros. Mais importantes que consumir os livros, é ler os livros. Se as editoras buscassem livros mais baratos, com certeza a pirataria seria menor, não extinta, porém menor. Afinal, de um certo modo, a pirataria acompanha o fluxo do mercado, e até mesmo ajuda a renovação de jogadores.
Enquanto a mim? Usei e abusei do e-mule e baixei todos os livros de Ad&d que me interessavam, e até hoje estou aguardando por uma visita à Baróvia e pela Saga dos Avatares...